Academicismo ou academismo designa, originalmente, o método de ensino artístico profissionalizante concebido, formalizado e ministrado pelas academias de arte europeias. Este método estendeu sua influência sobre todo o mundo ocidental ao longo de vários séculos, desde sua origem na Itália em meados do século XVI, e teve um impacto em várias sociedades não-ocidentais por conta das conquistas do colonialismo. No entanto, os termos não têm uma aplicação consistente entre a crítica especializada, e às vezes ele foi ampliado, e às vezes limitado ou transposto para outras áreas. Para alguns eles se referem à versão do método consolidada na Academia Real de Pintura e Escultura da França, fundada em Paris em 1648 por um grupo de pintores liderados por Charles Le Brun, que impôs uma pedagogia fortemente sistemática, hierarquizada e ortodoxa. O sucesso da proposta francesa a tornou o modelo para a fundação de inúmeras outras escolas de arte de nível superior em vários países, de grande importância para a evolução das correntes barroca, neoclássica e parte da romântica. Outros escritores preferem empregá-los para descrever um estilo particular, nascido nos círculos das academias ou por sua influência, também denominado arte acadêmica ou estilo acadêmico.[1][2] Finalmente, para muitos autores, se referem especialmente à arte produzida no âmbito das academias que funcionaram no século XIX.[3][4][5] Apesar de serem termos aplicáveis com toda a propriedade a qualquer das artes, a grande maioria dos pesquisadores tem voltado sua atenção principalmente aos efeitos do modelo acadêmico sobre as artes visuais, e dentre elas, a pintura.
As academias nasceram para suplantar o sistema corporativo e artesanal das guildas medievais de artistas, e tinham como pressuposto básico a ideia de que a arte pode ser ensinada através da sua sistematização em um corpo de teoria e prática integralmente comunicável, minimizando a importância da criatividade como uma contribuição toda original e individual. Valorizavam antes a emulação de mestres consagrados, venerando a tradição clássica, e adotavam conceitos formulados coletivamente que possuíam, além de um caráter estético, também uma origem e propósito éticos. As academias foram importantes para a elevação do status profissional dos artistas, afastando-os dos artesãos e aproximando-os dos intelectuais. Também tiveram um papel fundamental na organização de todo o sistema de arte enquanto funcionaram, pois além do ensino monopolizaram a ideologia cultural, o gosto, a crítica, o mercado e as vias de exibição e difusão da produção artística, e estimularam a formação de coleções didáticas que acabaram por ser a origem de muitos museus de arte. Essa vasta influência se deveu principalmente à sua estreita associação com o poder constituído dos Estados, sendo via de regra veículos para a divulgação e consagração de ideários não apenas artísticos, mas também políticos e sociais.[2][6] Por isso, desde sua origem, de parte de grupos de artistas que permaneciam à margem dos reduzidos círculos acadêmicos, foram cercadas de protesto e controvérsia a respeito do que seria uma arte oficial, e suas regulamentações restritivas e universalistas são consideradas um reflexo do absolutismo.[7][8]
A partir de fins do século XVIII, acentuando-se em meados do século XIX, o sistema acadêmico tradicional, que até então fora um dos principais promotores das vanguardas e o árbitro de toda a arte, perdeu parte da conexão vital com seu contexto e começou a ser atacado vigorosamente pelos praticantes do realismo e do impressionismo, que o acusaram de ser dogmático, conservador e contrário à expressão da individualidade, entrando o sistema em declínio. No início do século XX o antigo método acadêmico entrou em colapso com a ascensão do modernismo, que combateu todas as formas de tradição artística e privilegiou a intuição, a independência criativa e a expressão pessoal liberta de regras apriorísticas. Entretanto, mesmo através do modernismo, diversos princípios do antigo academicismo enquanto método de ensino sobreviveram em iniciativas como a da Bauhaus e outras escolas de arte, e como elemento estilístico pode ser detectado até mesmo em produções paradigmáticas da modernidade, como na intelectualização formalista do cubismo e no uso de símbolos e alegorias pelos surrealistas. Ainda que profundamente reformado, parte do ideal acadêmico primitivo em tempos recentes voltou a ser considerado válido e reingressou no currículo das escolas de arte das universidades e outras instituições de ensino superior, após o reconhecimento de duas necessidades: a de o artista ter um preparo intelectual sólido para poder criar e interagir no mundo da arte contemporânea, e a de se formular alguns critérios valorativos de uso comum. A arte acadêmica mais antiga conseguiu sobreviver ao modernismo como um monumento de eras passadas, mas a produzida na segunda metade do século XIX, a da geração que conviveu com os precursores modernistas, somente em torno da década de 1970 iniciou a ser recuperada pela crítica. Atualmente os seus produtos já são exibidos em vários museus em pé de igualdade com os de escolas mais prestigiadas e seus preços de mercado se elevam, mas o termo "academicismo" ficou impregnado com uma conotação pejorativa e ainda é usado na linguagem corrente para indicar tendências retrógradas, retóricas, artificiais, tecnicistas, ortodoxas, tradicionalistas ou conservadoras.[3][6][9]