Evangelho segundo Marcos |
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Marcos 16 é o décimo-sexto e último capítulo do Evangelho de Marcos no Novo Testamento da Bíblia. Ele começa com a descoberta do túmulo vazio de Jesus por Maria Madalena, Maria e Salomé, onde estava um homem vestido de branco que anuncia-lhes a ressurreição de Jesus.
O versículo 8 termina com as mulheres fugindo do local e afirmando que «[elas] não disseram nada a ninguém, porque estavam possuídas de medo» (Marcos 16:8). Muitos estudiosos afirmam que este é o final original do capítulo e que o trecho seguinte (Marcos 16:9–20) foi escrito e acrescentado depois com o objetivo de sumarizar as aparições de Jesus e os milagres realizados pelos cristãos depois da ressurreição. Neste trecho, o autor faz referência à aparição a Maria Madalena, a dois discípulos e finalmente aos onze apóstolos (os doze apóstolos menos Judas). O texto conclui com a Grande Comissão, declarando que os crentes que haviam sido batizados serão salvos e os infiéis, condenados, a ascensão de Jesus ao céu para sentar-se à direita de Deus.[1] A maior parte dos acadêmicos, concordando com a análise do crítico textual Bruce Metzger, acredita que de fato o trecho não era parte do texto original de Marcos.[1]
Outros críticos identificaram dois finais distintos: o "Final Longo" (que abrange os versículos 9 a 20) e o "Final Curto", que aparece em seis manuscritos gregos e em dezenas de cópias etíopes. Com algumas variações, este final mais curto é o seguinte:
“ | Mas elas relataram brevemente a Pedro e aos que estavam com ele tudo o que ouviram. Depois disso, o próprio Jesus enviou, através deles, de leste a oeste, a sagrada e imortal proclamação da salvação eterna. | ” |
Em um manuscrito latino de c. 430 conhecido como Codex Bobbiensis ("k"), o "Final Curto" aparece sem o "Final Longo" e todo o texto de Marcos 16 é anômalo: há uma interpolação entre 16:3 e 16:4 que parece relatar que ascensão de Jesus teria ocorrido naquele ponto da narrativa, a parte final de 16:8 está ausente e há alguns estranhos erros na forma como aparece o "Final Curto". Outras irregularidades no Codex Bobbiensis levaram à conclusão que ele foi produzido por um copista (provavelmente do Egito) que não conhecia o material que estava copiando.
Por conta de evidências da era patrística (século II em diante) sobre a existência de cópias de Marcos com o "Final Longo", a posição majoritária entre os estudiosos é que ele deve ter sido escrito e acrescentado ao final de Marcos antes do século II.[2] Mas eles se dividem sobre a questão de se o "Final Longo" foi criado deliberadamente para servir de final para o Evangelho de Marcos (como defende James Kelhoffer) ou se ele já existia como um texto distinto que foi utilizado para "remendar" o final abrupto deixado por Marcos. A falta de uma transição suave entre a narrativa da cena em 16:8 e a seguinte é uma evidência a favor desta última posição. Há discordância entre os estudiosos se Marcos de fato parou de escrever em 16:8 — e, se o fez, se foi de propósito ou não — ou se ele continuou escrevendo um final que hoje se perdeu. Alusões a um encontro futuro na Galileia entre Jesus e seus discípulos (em Marcos 14:28 e Marcos 16:7) fazem crer que ele tencionava escrever mais.[2]
O Concílio de Trento, reagindo às críticas protestantes, definiu o Cânone de Trento, que é o cânon bíblico da Igreja Católica. "Decretum de Canonicis Scripturis", emitido em 1546 durante a quarta sessão do concílio, afirma que Jesus ordenou que o evangelho fosse pregado por seus apóstolos a todos os homens — uma frase claramente baseada em Marcos 16:15. O decreto afirmou ainda, depois de listar os livros da Bíblia, que "se alguém não receber como sagrado e canônico os ditos livros inteiros com todas as suas partes, como se costumava lê-los na Igreja Católica, como eles aparecem na antiga edição latina Vulgata e deliberadamente e de caso pensado condenarem as tradições já mencionadas, que seja anátema". Como Marcos 16:9-20 é parte do Evangelho de Marcos na Vulgata e a passagem tem sido rotineiramente lida nas igrejas desde tempos imemoriais (como demonstra-se em Ambrósio, Agostinho, Pedro Crisólogo, Severo de Antioquia, Leão Magno e outros), o decreto do concílio reafirma o caráter canônico da passagem. Ela também era utilizada pelos protestantes durante a Reforma: Martinho Lutero utilizou Marcos 16 16: como base para uma doutrina em seu catecismo menor. O trecho também era parte do "Novo Testamento de Reims" e da Bíblia do Rei Jaime (King James Version) e outras influentes traduções. Em sua forma moderna, é baseada principalmente no texto alexandrino, mas aparece entre chaves, com nota de rodapé ou ambos
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