Plano Cohen

Correio da Manhã de 1 de outubro de 1937, anunciando a "apreensão" do Plano Cohen pelo Estado-Maior do Exército.

O Plano Cohen foi um documento forjado por militares brasileiros com a intenção de instaurar a ditadura do Estado Novo, em novembro de 1937. Uma das maiores falsificações da história brasileira e um exemplo eloquente da intersecção entre o antissemitismo e o anticomunismo no país, ele foi fraudulentamente atribuído à Internacional Comunista, que, pretensamente, buscaria derrubar o governo por meio de greves, do incêndio de prédios públicos e de manifestações populares que terminariam em saques, depredações e no assassinato de autoridades. Como parte da farsa, ele foi "descoberto" pelas Forças Armadas, permitiu rotular como "comunistas" e derrotar os que se opunham ao governo e, enfim, foi utilizado para legitimar o golpe de Estado que implantou o Estado Novo.

Com a aproximação das eleições presidenciais marcadas para 1938, a ausência de um candidato que agradasse ao governo e a impossibilidade de estender o seu mandato, Getúlio Vargas e o general Eurico Gaspar Dutra passaram a planejar um golpe de Estado, mas que só funcionaria se aparentasse ser uma questão de necessidade nacional. A cúpula militar do governo identificou a necessidade de "revelar" novos fatos que introduzissem um clima de insegurança e instabilidade, e assim surgiu a ideia da fabricação do Plano Cohen. O documento foi enviado pelo general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, chefe do Estado-Maior do Exército, às principais autoridades militares do país e, em uma reunião oficial dos membros militares do governo, foi apresentado como se fora apreendido pelas Forças Armadas. Dutra e os demais presentes expressaram plena convicção quanto à iminência de um golpe comunista e à necessidade das Forças Armadas agirem com vigor. O Plano Cohen foi então divulgado, desencadeando comoção e uma forte campanha anticomunista. Vargas aproveitou-se da falsa ameaça para pressionar o Congresso Nacional a decretar um estado de guerra, que lhe deu poderes para remover seus opositores. Em 10 de novembro de 1937, quarenta dias após a divulgação do Plano Cohen, a ditadura do Estado Novo foi implantada no país.

Com a crise do Estado Novo, em 1945, o mesmo general Góis Monteiro que ajudara a arquitetar o Golpe de 1937 passou a trabalhar para derrubar Vargas. Ele denunciou a fraude que ocorrera oito anos antes, afirmando que o Plano Cohen fora entregue ao Estado-Maior do Exército pelo capitão Olímpio Mourão Filho, à época chefe do serviço secreto da Ação Integralista Brasileira. Mourão Filho confirmou ser o autor do documento, mas alegou tê-lo elaborado como uma mera simulação e acusou Góis Monteiro de tê-lo apropriado e utilizado indevidamente. Góis Monteiro, por sua vez, afirmou ter sabido da falsidade do documento desde o início, mas eximiu-se de qualquer culpa ao sugerir que um outro membro do governo o havia levado a público e afirmado que era verídico. Questionado sobre seu silêncio durante o Golpe de Estado de 1937, Mourão alegou ter respeitado a disciplina militar.

A revelação da fraude em torno do Plano Cohen causou consternação e vergonha na sociedade brasileira, que se sentiu ludibriada. Embora a conspiração e o envolvimento da alta cúpula das Forças Armadas tenham sido rapidamente comprovados, as acusações mútuas e a terceiros, levantadas por Mourão e, principalmente, por Góis Monteiro, dificultaram estabelecer com clareza a parcela de culpa de cada envolvido e que medidas fossem tomadas contra eles. Como parte do seu legado, o Plano Cohen teve papel decisivo em fenômenos que se estendem até a atualidade, como a institucionalização do anticomunismo como parte central da identidade dos militares brasileiros e a sedimentação, nos quadros militares, da ideia de que uma ditadura temporária pode servir como instrumento de progresso. Por analogia, a conspiração em torno do Plano Cohen foi equiparada a eventos como a campanha de atemorização deflagrada às vésperas do Golpe de 1964 e continua a ser mencionada em análises sobre a política brasileira contemporânea.


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