Realidade

 Nota: Se procura outros significados de realidade, veja Realidade (desambiguação).

Realidade (do latim realitas isto é, "coisa") significa, em seu sentido mais livre, tudo o que existe, seja ou não perceptível, acessível ou entendido pela filosofia, ciência ou qualquer outro sistema de análise.[1][2]

O real é comumente entendido como aquilo que existe fora da mente particular, mas também pode incluir, em certo sentido, a realidade interna que existe dentro da mente também.[3] A ilusão, a imaginação, embora não esteja expressa na realidade tangível extra-mentis, existe ontologicamente, onticamente* (relativa ao ente — vide Heidegger in "Ser e tempo")*, ou seja: intra-mentis. E é portanto real, embora possa ser ou não ilusória. A ilusão quando existente, é real e verdadeira em si mesma. Ela não nega sua natureza. Ela diz sim a si mesma. A realidade interna ao ser, seu mundo das ideias, embora na qualidade de ens fictionis intra mentis (ipsis literis, in "Proslogion" de Anselmo de Aostaargumento ontológico), ou seja, enquanto ente fictício, imaginário, idealizado no sentido de tornar-se ideia, e ser ideia, pode — ou não — ser existente e real também no mundo externo. O que não nega a realidade da sua existência enquanto ente imaginário, idealizado.[3]

Quanto ao externo — o fato de poder ser percebido só pela mente — torna-se sinônimo de interpretação da realidade,[4] de uma aproximação com a verdade. A relação íntima entre realidade e verdade, o modo em como a mente interpreta a realidade, é uma polêmica antiga.[5] O problema, na cultura ocidental, surge com as teorias de Platão e Aristóteles sobre a natureza do real (o idealismo e o realismo). No cerne do problema está presente a questão da imagem (a representação sensível do objeto) e a da ideia (o sentido do objeto, a sua interpretação mental ).[5]

Em senso comum, realidade significa o ajuste que fazemos entre a imagem e a ideia da coisa, entre verdade e verossimilhança.[1] O problema da realidade é matéria presente em todas as ciências e, com particular importância, nas ciências que têm como objeto de estudo o próprio homem: a antropologia cultural e todas as que nela estão implicadas: a filosofia, a psicologia, a semiologia e muitas outras, além das técnicas e das artes visuais.[6]

Na interpretação ou representação do real, (verdade subjetiva ou crença), a realidade está sujeita ao campo das escolhas, isto é, determinamos parte do que consideramos ser um fato, ato ou uma possibilidade, algo adquirido a partir dos sentidos e do conhecimento adquirido. Dessa forma, a construção das coisas e as nossas relações dependem de um intrincado contexto, que ao longo da existência cria a lente entre a aprendizagem e o desejo: o que vamos aceitar como real? Portanto a realidade é construída pelo sujeito cognoscente; ela não é dada pronta para ser descoberta.[4]

A verdade (subjetiva) pode, às vezes, estar próxima da realidade, mas depende das situações, contextos, das premissas de pensamento, tendo de criar dúvidas reflexivas. Às vezes, aquilo o que observamos está preso a escolhas que são mais um conjunto de normas do que evidências.

  1. a b Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. «Dicionário Priberam da Língua Portuguesa». Consultado em 4 de março de 2012 
  2. admin (27 de outubro de 2021). «Realidade - O que é e que tipo de realidade conhecemos?». Conceitos do Mundo. Consultado em 31 de outubro de 2024 
  3. a b FRANCO, J.R.; BORGES, P.M. (2015). «O real na filosofia de Charles S. Peirce» (PDF). PUC SP. Teccogs: Revista Digital de Tecnologias Cognitivas (12) 
  4. a b Almeida, Samuel de (9 de março de 2018). «Não existe uma realidade, apenas a sua interpretação». Desen (em inglês). Consultado em 31 de agosto de 2022 
  5. a b Günther, Abel (2002). «Verdade e Interpretação». GEN - Grupo de Estudos Nietzsche. Cadernos Nietzsche (12) 
  6. «Realidade». Conceitos. Consultado em 31 de agosto de 2022 

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