Tapete microbiano

Tapete de cianobactérias e algas numa poça salgada nas margens do Mar Branco.

Tapete microbiano (ou esteira microbiana; em inglês: microbial mat) é a designação dada em ecologia e nas ciências biológicas às estruturas, muitas vezes de grande extensão, formadas pela presença de múltiplas camadas de microrganismos, maioritariamente bactérias e arqueas, que criam um recobrimento contínuo, geralmente viscoso, sobre os materiais geológicos e biológicos. Os tapetes microbianos instalam-se na interface entre diferentes tipos de material, em geral em áreas submersas ou sobre superfícies húmidas, mas podem ocorrer em outros ambiente, sendo conhecidos alguns que sobrevivem em desertos.[1] Os tapetes microbianos ocorrem em habitats com temperaturas ambientes entre –40 °C e 120 °C, alguns formando-se como endossimbiontes de animais.

A capacidade de se aderir à superfícies e iniciar um crescimento em comunidade garante aos microrganismos diversas vantagens contra fatores abióticos e estressantes. O crescimento e desenvolvimento dos biofilmes em multicamadas laminadas leva à formação de microgradientes ambientais como resultado do metabolismo microbiano.[2] A alta estabilidade dessas comunidades, porém com flexibilidade suficiente para garantir a adaptação às mudanças ambientais, garante sua sobrevivência e permanência em ambientes extremos como lagoas hipersalinas, fontes hidrotermais ou fontes sulfurosas. Essas características foram importantes também no passado, uma vez que registros fósseis revelam uma grande abundância dessas estruturas na era Proterozoica (2.5 a 0.7 Ga), sendo os mais antigos datados de 3.7 e 3.4 Ga no oeste da Austrália e África do sul, respectivamente.[3]

Os tapetes microbianos intervieram na biogeoquímica global, uma vez que antes do surgimento da fotossíntese oxigênica a produtividade da biosfera era inteiramente baseada no poder redutor de fontes geológicas. Com o passar do tempo, a maior parte do poder redutor disponível para microrganismos não-fotossintetizantes era obtido através da associação física com comunidades de cianobactérias, onde a produção de CO, H2 e CH4 (estimulada pela concentração aumentada de H2) afetou fortemente o microambiente alterando a termodinâmica do metabolismo microbiano.[4]

Semelhante aos tapetes microbianos contemporâneos, os estromatólitos são estruturas organo-sedimentares produzidas pelo aprisionamento, ligação e/ou precipitação de sedimentos resultantes da atividade metabólica e crescimento de microrganismos. Com fósseis antigos altamente conservados datando até 3.5 Ga, os estromatólitos carregam detalhes que auxiliam no entendimento do ambiente na terra primordial.[5]

O interesse no estudo dos tapetes microbianos não se restringe apenas a paleobiologia, tendo cativado pesquisadores devido a sua possível aplicação biotecnológica. Muitos dos ambientes de desenvolvimento dessas esteiras microbianas são considerados extremos, portanto os organismos que ali habitam possuem metabolismo especializado que permitem seu desenvolvimento nessas condições, desse modo, sendo ótimos candidatos para o descobrimento de enzimas com aplicabilidades industriais. Um importante exemplo de enzima descoberta pelo estudo de microrganismos termófilos é a Taq polimerase, que revolucionou a área da biologia molecular após seu descobrimento em 1969.[6]

  1. Schieber, J., Bose, P, Eriksson, P.G., Banerjee, S., Sarkar, S., Altermann, W., and Catuneanu, O. (2007). Atlas of Microbial Mat Features Preserved within the Siliciclastic Rock Record. [S.l.]: Elsevier. ISBN 0-444-52859-8. Consultado em 1 de julho de 2008 
  2. Gerdes, Gisela (2010). Seckbach, Joseph; Oren, Aharon, eds. «What are Microbial Mats?». Dordrecht: Springer Netherlands. Cellular Origin, Life in Extreme Habitats and Astrobiology (em inglês): 3–25. ISBN 978-90-481-3799-2. doi:10.1007/978-90-481-3799-2_1. Consultado em 29 de junho de 2023 
  3. Prieto-Barajas, Cristina M.; Valencia-Cantero, Eduardo; Santoyo, Gustavo (1 de janeiro de 2018). «Microbial mat ecosystems: Structure types, functional diversity, and biotechnological application». Electronic Journal of Biotechnology (em inglês): 48–56. ISSN 0717-3458. doi:10.1016/j.ejbt.2017.11.001. Consultado em 29 de junho de 2023 
  4. Hoehler, Tori M.; Bebout, Brad M.; Des Marais, David J. (julho de 2001). «The role of microbial mats in the production of reduced gases on the early Earth». Nature (em inglês) (6844): 324–327. ISSN 1476-4687. doi:10.1038/35085554. Consultado em 30 de junho de 2023 
  5. Hofmann, H.J. (dezembro de 1973). «Stromatolites: Characteristics and utility». Earth-Science Reviews (em inglês) (4): 339–373. doi:10.1016/0012-8252(73)90002-0. Consultado em 30 de junho de 2023 
  6. Brock, Thomas D.; Freeze, Hudson (abril de 1969). «Thermus aquaticus gen. n. and sp. n., a Nonsporulating Extreme Thermophile». Journal of Bacteriology (em inglês) (1): 289–297. ISSN 0021-9193. PMC PMC249935Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 5781580. doi:10.1128/jb.98.1.289-297.1969. Consultado em 30 de junho de 2023 

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