Voz humana

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A voz é uma das ferramentas primárias e mais imediata que o ser humano dispõe para interagir com a sociedade.[1] Através da voz é possível transmitir ideais, sentimentos e intenções no ato comunicativo. Este instrumento pode ser usado para falar, cantar, gargalhar, bocejar, soluçar, chorar, gritar etc. O tom da voz pode ser modificado para sugerir emoções como raiva, surpresa e felicidade. A partir do significado que é atribuído às suas relações sociais, o sujeito pode criar uma voz peculiar e que desempenhe uma função específica perante as experiências que estabelece em sua vida.[2][3] Além de ferramenta de interação social, a voz carrega traços da faixa etária, sexo, tipo físico, personalidade e estado emocional de um indivíduo.[4] A transmissão da emoção é observável na emissão vocal pelo envolvimento de vias neuromotoras que geram um sentido de inter-relação na comunicação, e se modifica de acordo com a situação e o contexto.[5]

Figura 1. Órgãos do sistema fonatório.

Do ponto de vista fisiológico, a voz é o resultado da atuação de órgãos, músculos, cartilagens e o sistema nervoso que atuam em conjunto no processo de produção da vocal. É através desse sistema, chamado de sistema fonatório, que os seres humanos geram a voz.[6] O mecanismo para gerar a voz humana pode ser subdividido em três partes: os pulmões, as pregas vocais dentro da laringe e os articuladores - lábios, língua, dentes, palato duro, palato mole e mandíbula (figura 1).

O pulmão produz um fluxo de ar que funciona como um combustível para gerar a voz. Este ar é expulso dos pulmões pelo diafragma e passa pelas pregas vocais, que estão em adução (fechadas), fazendo-as vibrarem - por causa da pressão de ar. A vibração das pregas vocais, transforma esse ar em pulsos sonoros que formam a fonte de som laríngeo. Esta frequência fundamental passa e reverbera por todo o trato vocal. Por meio dos músculos da laringe é possível ajustar a duração e a tensão das pregas vocais para adequar a altura e o tom da emissão sonora. Os articuladores filtram e moldam o som emanado pela laringe, podendo interagir com o fluxo de ar- fortalecendo ou enfraquecendo, afim de modelar o som que sai pela boca. Resumidamente, a voz consiste no som produzido pela vibração das pregas vocais modificado pelo trato vocal.[7]

Figura 2. O espectrograma da voz humana revela seu rico conteúdo harmônico.

O tom de voz é rico em harmônicos (figura 2). Estes são gerados por muitos modos diferentes de vibração das pregas vocais. A frequência fundamental é gerada pela vibração de toda a extensão das pregas vocais. No entanto, não apenas toda a extensão das pregas vocais vibra, mas seções ao longo da extensão da prega vocal vibram, gerando, literalmente, vibrações dentro de vibrações. Não apenas cada metade das pregas vocais vibra, mas cada terço, quarto, quinto, sexto, etc., também vibra. Estes seriam os harmônicos. O tom da voz do ser humano, em média, pode se estender em até 20 ou mais harmônicos, embora provavelmente nem todos eles sejam percebidos.[6]

O tom de voz (som gerado pela vibração das pregas vocais) é um tom complexo que é composto de muitas frequências. A frequência mais baixa neste tom complexo é chamada de frequência fundamental. A frequência fundamental da voz humana, pode variar entre 50 e 3400Hz. A crianças (independente do sexo) têm uma frequência fundamental superior a 300Hz. A mulher adulta (do sexo feminino), normalmente, têm uma frequência fundamental superior a 200Hz. O homem adulto (do sexo masculino), normalmente, têm uma frequência fundamental de aproximadamente 125Hz. A medida da frequência fundamental sofre queda em seus valores com o aumento da idade. Essas mudanças são explicadas pelo desenvolvimento natural, que afeta as estruturas laríngeas com o crescimento corporal, como o aumento da massa e comprimento das pregas vocais.[6][8]

Por outra perspectiva, a voz humana causa sensações auditivas e através disso é possível analisar alguns parâmetros vocais, o pitch (sensação psicoacústica da frequência fundamental habitual) e o loudness (sensação psicoacústica da intensidade habitual), por exemplo. O pitch é o fator mais fortemente relacionado ao sexo da pessoa. Assim, espera-se que sujeitos do sexo masculino tenham uma voz com o pitch mais grave (grosso) do que os do sexo feminino, que normalmente tem o pitch mais agudo (fino).[9]

O fonoaudiólogo é o profissional que atua na área da saúde vocal, sendo ele quem auxilia cantores, locutores, professores, jornalistas, dentre outros profissionais que utilizam a voz como instrumento de trabalho. Este profissional fornece orientações, avaliações e exercícios especializados, localizando a frequência vocal confortável e tessitura adequada, trabalhando articulação, respiração, ritmo, coordenação pneumofonoarticulatória, postura, afim de permitir uma qualidade vocal satisfatória e saudável.[10]

  1. SOUZA, Marli Soares de; GOMES, Rosana M.; GUEDES, Juliana Mascarenhas. VOZ HUMANA E COMUNICAÇÃO. Universidade Fumec - 50 Anos, Belo Horizonte, p. 1-6, 15 maio 2015.
  2. Emotion, Affect and Personality in Speech (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  3. Vilela FCA, Ferreira LP. Voz na clínica fonoaudiológica: grupo terapêutico como possibilidade. Dist Comun. 2006; 18(2):235-43.
  4. OLIVEIRA, João. A Importancia da saúde vocal para profissionais. Rev. Espaço Aberto, Ago/2013. Ed. 152. USP. São Paulo.
  5. ANDRADE, Luciana Dantas Farias de et al. A IMPORTÂNCIA DA SAÚDE VOCAL EM DIFERENTES CATEGORIAS PROFISSIONAIS: uma revisão integrativa. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 1, n. 13, p. 432-441, jul. 2015.
  6. a b c Fuller, Donald R.; Pimentel, Jane T.; Peregoy Barbara M. Anatomia e fisiologia aplicadas à fonoaudiologia [ tradução Joana Cecilia Baptista Ramalho Pinto], 1. ed., Barueri, SP, Manoele, 2014.
  7. webe0601 (5 de fevereiro de 2019). «Lions Voice Clinic». Medical School - University of Minnesota (em inglês). Consultado em 26 de maio de 2022 
  8. Spazzapan, Evelyn Alves; Marino, Viviane Cristina de Castro; Cardoso, Vanessa Moraes; Berti, Larissa Cristina; Fabron, Eliana Maria Gradim (25 de novembro de 2019). «Acoustic characteristics of voice in different cycles of life: an integrative literature review». Revista CEFAC (em inglês): e15018. ISSN 1516-1846. doi:10.1590/1982-0216/201921315018. Consultado em 14 de junho de 2023 
  9. CIELO, Carla Aparecida; BEBER, Bárbara Costa; MAGGI, Celina Rech; KÖRBES, Daiane; OLIVEIRA, Clarissa Flores; WEBER, Danúbia Emanuele; TUSI, Aline Ramos. Disfonia funcional psicogênica por puberfonia do tipo muda vocal incompleta: aspectos fisiológicos e psicológicos. Estudos de Psicologia (Campinas), [S.L.], v. 26, n. 2, p. 227-236, jun. 2009. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0103-166x2009000200010.
  10. GLÓRIA, Ana Olivia da Silva et al. PADRONIZAÇÃO DAS FREQUÊNCIAS DA VOZ CANTADA EM CORAIS DA REGIÃO SUL - CAPIXABA. Revista Digital Academia: Crefono1, Capixaba, v. 1, n. -, p. 1-10, out. 2016.

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